Ecoturismo cresceu significativamente desde 2020, quando visitantes passaram a preferir locais isolados e em contato com o meio ambiente em detrimento dos centros urbanos
O ecoturismo no Brasil tem crescido consideravelmente nos últimos anos, quando cada vez mais visitantes passaram a se interessar por locais onde o contato com a natureza é o principal objetivo. A última pesquisa com foco no turismo, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), em 2019, mostrou que 60% das pessoas que viajaram a passeio em todo o Brasil procuraram locais afastados dos centros urbanos em busca de natureza, com grande diversidade na oferta de experiências.
No segundo semestre de 2020, quando as pessoas começaram a viajar novamente (depois de meses em quarentena por causa da pandemia da covid-19), os locais isolados, amplos, com muito contato com o meio ambiente foram os mais procurados. E de todos os destinos de ecoturismo, turismo de aventura ou turismo de contemplação existentes no Brasil, o Jalapão foi escolhido por muitos.
Essa tendência se manteve em 2021, quando o Parque Estadual do Jalapão (PEJ) bateu recorde de visitação. Foram 55.579 visitantes, maior número registrado desde 2012, quando começou a série histórica registrada pelo Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins), responsável pela gestão do PEJ e também da Área de Proteção Ambiental (APA) do Jalapão, onde o Parque está inserido.
A supervisora da APA, Rejane Nunes, ressalta que, apesar do aumento no interesse em conhecer as belezas da região, o local é uma Unidade de Conservação (UC) e, por isso, o acesso aos atrativos, mesmo os que estão localizados no interior do parque sob a gestão dos comunitários ou em áreas particulares, tem capacidade de carga estabelecida e horário de visitação para segurança do visitante e conservação do atrativo.
Ela ressalta que o principal objetivo de uma unidade de conservação é proteger a biodiversidade e, no caso do Parque Estadual do Jalapão, sua criação visa principalmente à preservação de ecossistemas naturais, a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação ambiental e de recreação em contato com a natureza, onde o visitante tem a oportunidade de se reconectar em áreas de natureza abundante e ao mesmo tempo elevar a consciência ambiental.
A supervisora esclarece ainda que, além do trabalho de monitoramento e fiscalização realizado pelo Naturatins, os próprios comunitários, guias e operadores de turismo credenciados para atuarem na região ajudam a orientar os visitantes quanto à exigência das normas de visitação, deixando o local do mesmo jeito que encontraram. “Todas as pessoas que atuam no setor do turismo em Unidades de Conservação sabem que o que atrai o visitante é a natureza, por isso se esforçam para que esta esteja sempre pronta para encantar o próximo grupo”, pontua Rejane Nunes.
Normas
Em outubro do ano passado, o Governo do Tocantins publicou a Instrução Normativa n° 003/2021, feita em conjunto entre o Naturatins e a então Agência de Desenvolvimento do Turismo Cultura e Economia Criativa (Adetuc), alterando as normas de visitação nos atrativos públicos do Jalapão, bem como os horários em que é permitida a visitação. Os atrativos públicos, ou seja, aqueles que estão em áreas do Estado, são as Dunas, a Serra do Espírito Santo, a Cachoeira da Velha e a Prainha do Rio Novo.
De acordo com a norma vigente, a capacidade de carga dos atrativos Dunas, Cachoeira da Velha e Prainha do Rio Novo é de 200 pessoas por dia. Já na Serra do Espírito Santo, o limite é de 100 pessoas/dia. Essas visitas devem ocorrer das 7 às 11 horas e das 14 às 18 horas nas Dunas; das 4 às 11 horas na Serra do Espírito Santo; e das 8 às 16 horas na Cachoeira da Velha e na Prainha do Rio Novo.
A mesma Instrução Normativa também impõe que, para ter acesso a esses locais públicos, é preciso estar acompanhado de Guia de Turismo ou Condutor Ambiental, devidamente credenciado pelo Naturatins.
Off road
“Se era para me isolar, então resolvi me isolar junto à natureza”, afirma o baiano Hugo Azevedo que passou um mês inteiro na região, em 2021. Ele narra que escolheu o destino por meio de fotografias que viu em perfis de redes sociais de pessoas que já tinham conhecido o local. “O fato do Jalapão ser off road (sem estradas pavimentadas de acesso) tornou minha escolha mais fácil, porque adoro esse tipo de ambiente, em que só chega lá quem realmente está com muita vontade de chegar”, opina o visitante.
Os presidentes das entidades que representam os operadores de turismo do Jalapão explicam que é justamente essa característica que atrai os aventureiros que torna o passeio para o Jalapão caro e, portanto, inacessível para muitos, inclusive para a maioria dos tocantinenses.
De acordo com o presidente da Associação de Turismo Regional do Jalapão (Atureja), em Ponte Alta do Tocantins, Mauro Celso Fontoura, o acesso difícil, onde só é possível chegar com veículo traçado, e as passagens aéreas para Palmas, que é fim de linha aérea, fazem com que os pacotes turísticos sejam caros.
O presidente da Associação Jalapão Dourado, localizada em São Félix do Tocantins, Mário Luiz Alencar Araújo, acredita que o Jalapão é um destino turístico consolidado. “O Jalapão não é modinha e já é conhecido hoje no Brasil e no mundo, é uma potência do ecoturismo, do turismo de aventura. Eu acredito que esse potencial tem a tendência de crescimento, inclusive em 2021 foi o recorde de visitantes e cada ano vai superar”, pontua.
Ecoturista
Os presidentes de associações dizem que existe um perfil mais ou menos definido do visitantes da região. “Em sua grande maioria, os turistas quando procuram o Jalapão já conhecem até mais do que os guias; são pessoas de grandes centros, com uma consciência ecológica até maior do que nós que moramos e trabalhamos aqui”, avalia Mário Luiz.
Mauro Celso Fontoura acredita que 80% dos turistas que procuram o Jalapão sabem o que querem, para onde querem ir, capacidade de carga, duração da locomoção e outras informações importantes. “Apenas 20% são aqueles turistas perdidos, que não sabem onde estão, o que são os atrativos, nem o que é capacidade de carga e precisam ser orientados sobre tudo. Mas, o mais importante é que as pessoas têm muito interesse neste tipo de turismo e o Jalapão tem potencial para ser um destino mais competitivo”, conclui.
Edição: Caroline Spricigo
Revisão Textual: Marynne Juliate