Existe aquela velha história de que sorte é nada mais que o encontro da preparação com a oportunidade. Quando se trata do casal de cientistas alemães Özlem Türeci e Ugur Sahin, criadores da vacina BioNTech/Pzifer, o ditado parece mais real do que nunca. Essa jornada contra o tempo é narrada no livro A vacina, assinado pelo repórter Joe Miller.
Tudo começa em 24 de janeiro de 2020. Após semanas de trabalho intenso, o cientista Ugur estava com a agenda mais tranquila. Aproveitando o tempo livre, mesmo que sua caixa de entrada estivesse transbordando de e-mails dos alunos de doutorado, começou a checar seus sites favoritos.
Na seção de ciência do Der Spiegel, importante jornal alemão, um relatório informava que na cidade de Wuhan, na China, uma nova doença respiratória — do tipo que causa arrepios nos epidemiologistas, segundo relato de Miller, causada por “transmissão interespécies” — já tinha acometido cerca de 50 pessoas. O SARS-CoV-2, ou novo coronavírus, dava as caras para o mundo.
Joe Miller, autor de A vacina. Foto: Thomas Lohnes
Notícia alarmante e histórico
Onze anos antes de se deparar com o relatório, Ugur Sahin uniu forças com a esposa, Özlem Türeci, para criar a BioNTech. O foco da empresa de biotecnologia sempre foi encontrar a cura para o câncer, mesmo que tivesse embarcados em alguns projetos de desenvolvimento de vacinas contra gripe, HIV e tuberculose.
Dos mais de mil funcionários da empresa, apenas um pequeno grupo — cerca de dez pessoas — estava voltado para a elaboração de vacinas contra vírus. A notícia alarmou o cientista, no entanto, que logo pensou em mandar um e-mail para o presidente de sua empresa, Helmut Jeggle.
“Helmut, economista de formação, ficou surpresa com o fato de Ugur estar levando o novo vírus tão a sério”, relata Joe Miller em A vacina. “Depois de receber o e-mail, na noite anterior, tinha feito algumas pesquisas básicas sobre o surto em Wuhan e detectara poucos alardes entre os governos além da costa chinesa. Mas Ugur foi inequívoco: esse surto tinha o potencial de ser tão grave quanto a pandemia de gripe asiática que abalou o mundo no final dos anos 1950.”
O que dizem do casal
Desde a descoberta da radioatividade por Marie e Pierre Curie, nenhum outro casal de cientistas foi tão celebrado quanto Özlem Türeci e Ugur Sahin.
The Times
Eles são o símbolo de uma história de sucesso, tanto para as ciências quanto para os negócios.
Financial Times
Criadores de um novo método científico no combate à covid-19, assim como no combate ao câncer, Özlem e Ugur se tornaram heróis de nossa época.
Bloomberg
Surpresa de janeiro e vacina
O repórter Joe Miller conta que os funcionários da empresa de biotecnologia já estavam acostumados com a “surpresa de janeiro” — algum tipo de desvio de rota que costumava acontecer no começo do ano, frustrando o caminhar dos planos em execução. Em 2020, quando o novo vírus começou a circular na China, a surpresa foi mais chocante. Mas Ugur e Özlem, já no dia 25 de janeiro de 2020, estavam comprometidos com a causa.
“Esse projeto mais recente não tinha a ver com testar uma nova ideia, e sim executar uma”, conta Miller, no livro, sobre a atitude tomada pelo cientista. “A partir daquele dia, a empresaria usaria todos os recursos disponíveis para responder ao surto de uma doença infecciosa em tempo real. Ele comunicou à equipe montada em seu escritório que já tinha dado o pontapé inicial no fim de semana.”
Nesse ponto, e por conta própria, Ugur já tinha oito vacinas em potencial contra o coronavírus e o pontapé inicial para o projeto Lightspeed, que acabou desenvolvendo vinte possíveis vacinais em tempo recorde, estava dado. A aprovação da primeira vacina clinicamente testada contra a covid-19 chegou em 2 de dezembro de 2020.
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A vacina: a história do casal de cientistas pioneiros no combate ao coronavírus
Joe Miller
Trad.: Mayumi Aibe, Natalie Gerhardt e Paula Diniz
Intrínseca
320 págs.